Não é segredo que o Brasil tem batido recordes de produção a cada safra de soja. Neste ciclo 2021/2022, a estimativa é de 141,26 milhões de toneladas, conforme projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Contudo, pouco adianta ter quantidade sem qualidade. Essa discussão é o foco do décimo episódio do programa Aliança da Soja.
Nesse sentido, o alto poder proteico do grão começa com a escolha de uma boa semente. Para ser considerada como tal, a cultivar necessita apresentar altas taxas de vigor, germinação e sanidade. Essa análise deve ser feita em laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A exigência do órgão é que durante os testes a germinação alcance valor igual ou superior a 80%.
No Brasil, 65% dos produtores de soja usam sementes certificadas, com alto vigor comprovado. Esse atributo pode resultar em 10% de ganhos de produtividade na lavoura. Conforme dados da Conab, o mercado legal movimentará mais de R$ 25 bilhões na safra 21/22.
Eficiência na avaliação
Para reduzir tempo e dinheiro na hora da avaliação, a Libis, uma nova metodologia que utiliza laser, é capaz de diferenciar o vigor das sementes em poucos minutos. A técnica foi desenvolvida pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em parceria com a Embrapa Instrumentação e contou com experimento a campo e no laboratório com 92 amostras, sendo 46 lotes de baixo vigor e a mesma quantidade com alto vigor.
Os resultados obtidos comprovam o potencial da Libis para a análise de sementes. Levantamento da Embrapa concluiu que pelo teste determinado por envelhecimento acelerado, a cada 1% de vigor, há um ganho de produtividade de 28 kg por hectare.
A pesquisadora da Embrapa Instrumentação, Débora Milori, conta que as duas instituições começaram a trabalhar com essa tecnologia em laboratório em 2006. “Essa técnica utiliza um laser de alta energia que é focalizado sobre a semente de soja, então, conseguimos fazer um plasma e analisando essa luz, conseguimos medir a composição elementar da amostra e saber exatamente o quanto ela tem de cálcio, de fósforo, de potássio”, explica. “O que observamos é que as sementes de mais alto vigor, possuem um perfil químico sutilmente diferente das sementes de mais baixo vigor. Quando aliamos essa técnica tão poderosa com a parte de inteligência artificial, conseguimos captar essas nuances, essas pequenas diferenças entre as sementes […]”, completa.
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Segundo ela, em comparação às metodologias convencionais de análise de semente, a Libis tem a vantagem de ser de menor custo, já que é rápida e não necessita de preparo da amostra, além da diferença na questão de infraestrutura necessária para fazer a avaliação. “Quando olhamos para os métodos tradicionais, vemos a questão de testes de germinação, avaliação de tamanho de planta de soja, vigor e isso tudo leva tempo e demanda espaço, além de recursos humanos. Com esse método, conseguimos montar uma infraestrutura bastante compacta e chegar em um laudo similar”.
Débora afirma que para a tecnologia sair do laboratório e ficar disponível no mercado, falta encontrar uma empresa parceira interessada e que avalie qual modelo de negócios gostaria de implementar com o método em questão. “Pode ser uma empresa que deseje trabalhar com o desenvolvimento da instrumentação ou uma empresa de sementes que está interessada em comprar um equipamento pronto para adotá-lo em sua linha de trabalho”, afirma.
Expansão da soja
O décimo episódio do Aliança da Soja também entrevistou o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Leonardo Machado. Para ele, é importante destacar que o grão nacional é muito superior ao dos principais concorrentes internacionais, como Estados Unidos e Argentina. “Principalmente quanto ao teor de óleo e proteína, que são os principais indicativos apreciados pelo mercado consumidor”, enfatiza.
De acordo com Machado, ainda que as avaliações de qualidade do grão estejam no início, os atributos da soja brasileira serão importantes no ganho de novos mercados futuramente. Sobre isso, porém, o coordenador enxerga outros desafios, como o chamado “custo Brasil”.
“Para levar a soja de Goiás até o porto mais próximo, por exemplo, são mais de mil quilômetros e isso é feito, basicamente, por via terrestre, que é a mais cara. Esse é um ponto que precisa ser superado, assim como ganhar novos mercados, um ponto crucial para o país. Hoje em dia, mais de 90% de nossa soja é exportada para a China e União Europeia”, ilustra.
Segundo ele, países como a Índia e os do sudoeste asiático, como Tailândia e Bangladesh, são nações crescentes que demandarão cada vez mais proteína vegetal para as suas produções animais e merecem atenção brasileira.