A Embrapa lançou uma plataforma com um panorama da resistência de plantas daninhas a herbicidas. O mapa mostra resultados de um estudo que teve início em 2017 e que tem como objetivo não só mapear, mas também ajudar a mitigar esse problema no Brasil. No Rio Grande do Sul, o estudo está sendo feito em três áreas: Capão do Leão; Pelotas, com a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL); e Passo Fundo, na Embrapa Trigo, e já conseguiu resultados em diminuir a ocorrência de plantas daninhas com resistência, em especial nas áreas em que a rotação de culturas foi utilizada como método, de acordo com o pesquisador da Embrapa Clima Temperado André Andres.
Porém, de acordo com ele, um ponto que ainda precisa melhorar é o monitoramento dessas plantas. “E isso começa com o produtor, porque nós não conseguimos chegar a todos os produtores, o produtor já sabe as plantas que têm resistência, ele precisa estar alerta e identificar que, quando começa a ter resistência, alguma coisa deu errado”, comenta. Ele explica que, numa planta resistente ao agrotóxico, mesmo a aplicação de uma dose de seis a oito vezes maior que a recomendada não adianta para acabar com o problema. “Nas plantas resistentes às vezes você aplica 10 vezes a dose ideal e não resolve, a planta resistente é resistente, é preciso mudar a estratégia”, enfatiza. Entre as plantas resistentes no Estado estão o azevém, nas culturas de soja; a buva, com resistência mais desenvolvida por produzir muitas sementes; e, no verão, o leiteiro e o picão preto, além do arroz daninho nos arrozais, do caruru e do curumim, que chegou nos últimos quatro anos no Estado, com suspeita de origem na Argentina.
“Para a soja, milho e trigo, há resistência em todo o Estado, o que varia é se é uma alta presença ou baixa presença”, relata o pesquisador. No arroz, os índices também são altos. “Eu diria que no mínimo 50% das lavouras de arroz têm plantas daninhas resistentes”, ressalta. Em todo Brasil, o prejuízo causado por essa resistência é estimado em R$ 9 bilhões. No processo de acabar com essa ocorrência, Andres explica que uma das primeiras coisas a se fazer é tirar o mecanismo que seleciona essas plantas, que no caso são os próprios herbicidas. “Então o que a gente faz? Às vezes você toma remédio e os médicos dizem que a bactéria está resistente e muda os remédios, e o que nós fizemos é isso: onde é possível, utilizamos um herbicida de grupos químicos diferentes”, explica.
Mas a rotação de culturas, com retirada mecânica das plantas daninhas com tratores, teve resultados mais satisfatórios. “Isso é a melhor estratégia porque além de controlar plantas daninhas estamos melhorando o solo com outras culturas, que deixam mais nutrientes para o próximo cultivo”, diz Andres. Ele afirma que, para que se tenha uma boa eficácia nessas estratégias, é preciso seguí-las radicalmente, o que pode aumentar em até 400% os custos da lavoura. No caso do arroz, ele exemplifica, é preciso ficar pelo menos três anos sem cultivá-lo na mesma área. “E sempre controlando para que na soja e no milho não se proliferem essas plantas”, completa.
Além disso, ele ressalta a necessidade de atenção às sementes, se possível sempre comprando novas ou tendo muito cuidado ao armazená-las para reutilização; à limpeza de maquinário; e à quarentena de animais que entrem no terreno para que não tragam sementes daninhas em seu sistema digestivo. “O produtor tem que ter persistência e as medidas precisam ser radicais. Mas, terminar com a resistência, eu não acredito que aconteça em curto prazo, porque essas plantas têm milhões de sementes”, lamenta.
De acordo com Andres, uma questão que agrava o problema é que muitas vezes o produtor utiliza sempre a mesma sequência de estratégias. “É muito mais fácil trabalhar em prevenção, com planejamento a longo prazo”, afirma. Os produtores gaúchos, ao migrarem para outras regiões, especialmente para o Centro-Oeste e Norte do Brasil, também foram um dos fatores responsáveis pelo agravamento do problema no país, ao levarem consigo as sementes resistentes, como afirma o pesquisador.
O plano inicial era finalizar o projeto até 2022, de acordo com o gerente de soluções agronômicas da Bayer, Daniel Nigro. “Mas baseado nas informações que foram geradas e nas descobertas que nós fizemos a intenção é prorrogar por mais alguns anos este trabalho”, afirma. “O principal objetivo agora é transformar essas informações que foram geradas em materiais de acesso ao público geral”, diz. Segundo ele, essa divulgação tem o objetivo de incentivar os produtores a executarem as práticas de manejo integrado.
Um dos motivos para a extensão do projeto é observar o que ocorre em áreas que não tiveram o manejo integrado e em que a resistência não era predominante no início do estudo, mas que hoje também são afetadas. “Então isso é um dos achados deste trabalho: que não é o fato de a gente não ter o problema de planta daninha resistente numa área que vai dizer se ela vai ficar livre dessas plantas daninhas no futuro ou não”, afirma. “E o mesmo a gente conseguiu ver nas áreas onde a população resistente já estava estabelecida: quando a gente trabalhou com metodologia de manejo integrado, a gente conseguiu manter essa população sob controle e diminuir o impacto negativo que as populações causam nas culturas”, complementa.
No mapa gerado pelo estudo, é possível fazer uma pesquisa por espécie, por mecanismo de ação ou por região. O estudo também constatou que o investimento inicial maior nessas estratégias de manejo gera melhores resultados para os produtores em produtividade e lucratividade, a longo prazo; e que favorece a produtividade e a longevidade das tecnologias que já estão presentes no mercado, segundo Nigro. Ele lembra também que essas práticas favorecem o controle da emissão de gases de efeito estufa na lavoura.