Pesquisas que ajudam a montar a equação de equilíbrio entre custos de produção e preços pagos ao produtor rural vêm apontando números mais animadores para a pecuária leiteira, tanto em termos nacionais quanto regionais. Apesar da redução nas despesas da atividade e da melhora nas cotações do leite, o cenário identificado nesses levantamentos traz pouco alívio ao setor no Rio Grande do Sul, que amargou prejuízos com as estiagens sucessivas e ainda não conseguiu recuperar as margens de lucro, avaliam fontes do agronegócio.
Divulgados na sexta-feira (28), dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) mostram que o preço médio do leite cru captado por laticínios no Brasil chegou a R$ 2,8120 o litro em março, um aumento real (deflacionado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo do mês) de 2,4% frente a fevereiro e de 10,8% em relação ao mesmo mês de 2022. No trimestre, o avanço acumulado foi de 9,3%. A tendência, de acordo com o centro de pesquisas, é que os valores continuem firmes em abril, com a aproximação do período de entressafra e a consequente diminuição da produção no campo.
“O produtor não sente esse alívio de imediato. Quando ele fez o plantio do milho, o custo de produção ainda estava elevado”, diz o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), Eugênio Zanetti. Ele observa que a crise hídrica prejudicou fortemente a safra de milho, ingrediente usado na formulação das rações. Para o dirigente, a tendência é de melhora gradativa na rentabilidade dos pecuaristasao longo dos próximos meses. "O produtor precisa melhorar essa margem, senão não vai ter como se manter na atividade”, afirma Zanetti, que é também vice-coordenador do Conselho Paritário Produtores/Indústrias do Leite do Rio Grande do Sul (Conseleite/RS).
Calculado pela assessoria econômica da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), o Índice de Insumos para Produção de Leite Cru do Rio Grande do Sul (ILC) apresentou queda de 3,72% em março na comparação com fevereiro. No trimestre, a deflação acumulada é de 12,98% frente ao mesmo período do ano passado. Em 12 meses, o ILC recuou 20,38%. “Março do ano passado foi o pico do indicador, porque havia começado o conflito na Ucrânia, os preços do petróleo, do fertilizante e das commodities agrícolas dispararam”, lembra o economista Ruy Silveira Neto.
Segundo Neto, a deflação do ILC vem refletindo o declínio das cotações da soja e do milho, diante da expectativa de safra recorde de grãos no Brasil. Em contrapartida, os preços de combustíveis e energia estão em alta. “Estamos vivendo um caso singular aqui: o custo continua elevado, mesmo com o preço (das commodities) caindo. O produtor não conseguiu produzir milho, está tendo de comprar de outros estados e aí tem o custo de frete”, diz Neto.
Para o economista, os preços da soja e do milho tendem a continuar em baixa até o final do primeiro semestre e o ILC deve seguir em deflação ou mostrar pequeno aumento no período, o que sinaliza uma tendência de recuperação do preço do leite. “Mas não acho que o produtor vai querer aumentar muito a produção, porque ele ainda está com a margem bem apertada. O alívio viria no segundo semestre, com boas pastagens de inverno, e depois no último trimestre, com uma perspectiva de que ele consiga fazer boas silagens e se recuperar da estiagem”, avalia.