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Dia do Apicultor, comemorado nesta segunda-feira, chega com safra de qualidade, mas preço reduzido

Com elevação na oferta mundial, exportações gaúchas do produto recuam mais de 30% no primeiro quadrimestre

Publicada em 22/05/2023 às 08:20h

por Camila Pessôa - Correio do Povo


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 (Foto: Rosana Halinski / Projeto Polinizando o Pampa)

As exportações do mel produzido no Rio Grande do Sul, entre janeiro e abril deste ano, diminuíram 30,94% em comparação ao mesmo período do ano passado. Segundo dados compilados pelo Ministério da Economia, no portal Comex Stat, os embarques do Estado, que é sétimo maior exportador do produto no Brasil, passaram de 672,2 toneladas para 464,2 toneladas. O recuo está quase dez pontos percentuais acima do registrado em nível nacional, de 21,39%. No primeiro quadrimestre no ano, o país exportou 9,2 mil toneladas de mel, ante 11,7 mil toneladas no mesmo intervalo de 2022.

O resultado que se apresenta neste Dia do Apicultor, comemorado hoje, dia 22, devem-se a mudanças no cenário global, que deprimiram os preços no mercado internacional e dificultaram o escoamento da safra brasileira. Uma delas foi a diminuição no consumo mundial de mel após o fim das restrições sanitárias decorrentes da pandemia de Covid-19. A outra está no aumento da oferta na Europa e nos Estados Unidos, que tiveram um inverno menos frio que o esperado. O mesmo ocorreu na Ucrânia e na Rússia, de onde, inclusive, esperava-se produção menor por conta da guerra, como explica o coordenador da Câmara Setorial da Apicultura da Secretaria da Agricultura (Seapi), Patric Luderitz. 

“Mesmo com uma estiagem mais forte em alguns pontos, a produção de mel foi maior em alguns lugares que em outros. Então, na média, tivemos uma produção maior que a do ano passado”, analisa Luderitz. A preocupação dos apicultores gaúchos, afirma, são estoques altos e de altíssima qualidade. “A gente está com grande dificuldade. Estamos com mais de 95% do mel guardado. Terminei a colheita em janeiro e estou esperando comprador”, relata o presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (Fargs), Ademir Haettinger. que acabou colhendo, este ano, 40% menos que no ano passado devido à estia. Com 400 colmeias em produção de mel nativo orgânico em Bossoroca, o dirigente conta que totalizou rendimento de 20 quilos do produto por colmeia enquanto o obtido em condições normais está em 35 quilos/colmeia.

Segundo o agrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Aroni Sattler, as produções mais afetadas foram as de plantas nativas da primavera. Já as de outono tiveram boa produção. “O eucalipto tem um sistema radicular profundo. Então essa seca não afeta tanto quanto a vegetação nativa”, afirma Sattler. Outro fator que levou a vantagens foi o início das chuvas nesse período de outono, em que o eucalipto ainda está florescendo. 

Para contornar as dificuldades em consequência dos baixos preços, Luderitz diz que é preciso criar políticas para aumentar o consumo interno. Afirma ainda que é preciso incentivar a produção de itens que utilizam mel na composição, como na indústria farmacêutica, e incluir o alimento na merenda escolar. “O mel é considerado remédio e as pessoas só comem quando estão doentes. É um superalimento e, se as pessoas comessem com mais frequência, evitariam o surgimento de doenças”, diz.

 

Incentivo às abelhas sem ferrão

O dia 20 de maio, sábado, foi o Dia Mundial da Abelha, motivo de festa para Rosana Halinski, doutora em zoologia e proprietária da empresa responsável pelo projeto Polinizando o Pampa, que participou da Feira do Livro realizada em Rio Grande. Lá, a equipe atendeu produtores e apresentou a iniciativa para a população. A produção de mel a partir de abelhas sem ferrão, nativas, é chamada de meliponicultura. 

Somente este ano, as equipes do Polinizando o Pampa entregaram 150 caixas de abelhas sem ferrão para 15 produtores do município e espalharam diversas colmeias em áreas urbanas. O projeto também percorre escolas, oferece uma uma cartilha educativa aos participantes e capacita professores da rede municipal de ensino. 

Quanto às colméias distribuídas aos produtores, Rosana afirma que o projeto já recebeu feedbacks. De acordo com eles, suas plantas já estão sendo melhor polinizadas, resultado expressado na quantidade produzida e diferença no gosto. Rosana conta que trabalha para que o projeto chegue a novas regiões, como a do Taim. Também ressalta que deseja incluir mais escolas, produtores familiares e mulheres, público, normalmente, com pouca ajuda financeira. 

 

Seca acelera atividade de pragas

A estiagem elevou a preocupação com o ácaro varroa destructor e com o besouro das colmeias (Aethina tumida), cuja presença foi agravada pela falta de nutrição nas colmeias. Por isso, a Seapi iniciou, este ano, um estudo inédito sobre o tema. “O objetivo é verificar o nível de infestação, as regiões com maior incidência, a necessidade de controle e orientar os apicultores sobre as melhores formas de lidar com o problema”, explica o agrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Aroni Sattler. 

O ácaro prejudica as colmeias porque se alimenta dos tecidos de reserva das pupas (estágio entre a larva e a fase adulta) e das abelhas adultas, enfraquecendo e diminuindo a longevidade dos insetos. “Também transmite vírus, principalmente o das asas deformadas, fazendo com que as abelhas nasçam e não consigam voar”, explica Sattler.

“Já o besouro causa um estresse muito grande, pois as abelhas tentam o eliminar. Mas, quando se instala, se alimenta da própria pupa e da cera da colmeia. Quando está em grande quantidade, suas larvas penetram e o mel escorre, causando abandono da colmeia”, explica. 

O melhoramento genético das abelhas pode ser uma das soluções apontada pelo estudo para reduzir os problemas. “Assim a gente não corre o risco de contaminar o mel com produtos químicos”, justifica Sattler.




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