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Plantio do trigo começa cercado de incertezas

Retorno do El Niño, falta de crédito rural e preços em queda preocupam produtores e desestimulam expansão de área semeada no Rio Grande do Sul.

Publicada em 25/05/2023 às 09:36h

por Patrícia Feiten - Correio do Povo


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 (Foto: Wenderson Araujo / Divulgação CNA / CP)

Com o encerramento da safra de grãos de verão, os agricultores gaúchos agora se voltam para as culturas de inverno. O plantio do trigo, que já foi iniciado na Região das Missões, deve ganhar força no restante do Estado a partir de junho, de acordo com a Emater/RS-Ascar. Neste ano, a semeadura começa cercada de incertezas quanto à oferta de recursos para financiar a lavoura, a impactos adversos do clima e às perspectivas de rentabilidade na comercialização do cereal.

O assessor técnico da Emater Célio Alberto Colle diz que a empresa ainda coleta informações para uma estimativa da área total de cultivo de trigo neste ano – em 2022, as lavouras semeadas com o cereal no Rio Grande do Sul somaram 1,48 milhão de hectares, a maior extensão em 42 anos. Uma das preocupações no ciclo 2023 é o provável retorno do El Niño. Caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, o fenômeno deve ter início em julho e, no caso do Rio Grande do Sul, a expectativa é de chuvas intensas. “Não dá para afirmar que vai ter aumento de área. Há esse medo de chuva mais para a frente, na (fase da) colheita, o que pode atrapalhar”, afirma Colle.

Outro fator de apreensão são as cotações do cereal, que despencaram de patamares em torno de R$ 100 a saca em maio do ano passado para os atuais R$ 68, de acordo o levantamento semanal da Emater. “A relação de troca ficou muito alta. As condições têm de ser perfeitas para tu conseguires colher e pagar o custo (de produção)”, destaca o assessor técnico, referindo-se à estimativa do número de sacas de trigo necessárias para a compra de uma tonelada de insumos usados na lavoura, como fertilizantes.

Assim como no ano passado, também marcado por estiagem no verão, os agricultores gaúchos vislumbram na próxima safra de inverno uma oportunidade de compensar parte dos prejuízos sofridos na produção de soja e milho em razão da falta de chuva. “Temos o cenário positivo, que é o de um produtor buscando renda novamente. Os custos para formar a lavoura estão (mais) baixos, o problema é que o produtor está descapitalizado”, observa o coordenador da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Hamilton Jardim.

Segundo o dirigente, a falta de crédito com juros subsidiados para investimentos e custeio da safra dificulta planos de expansão das lavouras, já que os recursos do Plano Safra 2022/2023 para produtores de menor porte se esgotaram antes mesmo do final do ciclo atual. “Isso leva aquele produtor que já está plantando a diminuir a sua tecnologia, porque ele não tem certeza de que o financiamento vai sair em tempo hábil”, diz Jardim.

Em um ano de riscos climáticos, o seguro agrícola também preocupa. Na safra 2021/2022, o governo desembolsou cerca de R$ 5 bilhões em indenizações para pequenos agricultores no âmbito do Proagro – a contratação do seguro é obrigatória para quem toma empréstimos por meio das linhas do Pronaf e do Pronamp e, no caso das propriedades de menor porte, a cobertura anual é limitada a R$ 335 mil. Com a grande demanda, o governo federal elevou as taxas cobradas nas operações. “O prêmio é muito caro. No caso de indenização, a cobertura é muito baixa”, afirma Jardim.

 

O gerente de pesquisa da cooperativa CCGL, Geomar Corassa, destaca que o cenário de El Niño exige estratégias de manejo diferentes das adotadas nos dois últimos anos, marcados por invernos mais secos. “As doenças que foram problema nas outras safras podem não ser tão relevantes agora. Este ano tende a ter mais problemas como manchas foliares no início do ciclo (crescimento vegetativo) do trigo”, explica. O assessor técnico da Emater recomenda que os agricultores busquem orientação profissional para o plantio. “Mesmo que não tenham um projeto de crédito, passem no escritório da Emater, vejam a questão do zoneamento, das variedades. Este é um ano para se observarem as questões técnicas, justamente por essas questões de risco”, alerta Colle.

 




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