Cientistas e pesquisadores identificaram rochas que estão sendo formadas por plástico na Ilha da Trindade, um paraíso quase inabitado que fica a 1.140 quilômetros de Vitória, no Espírito Santo, e é a ilha brasileira mais distante do continente. O acesso à ilha é controlado e restringido pela Marinha, o que mostra que a ação do homem começou a influenciar processos que antes eram considerados essencialmente naturais, como a formação de rochas.
No estudo, que é inédito no Brasil, os cientistas buscam entender a relação entre o homem e o meio em que vive, como as ações humanas transformam o meio ambiente e o impacto disso para as próximas gerações.
A pesquisa foi feita pela doutoranda do programa de pós-graduação em Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernanda Avelar.
A pesquisadora fazia um projeto de estudos costeiros nas ilhas oceânicas brasileiras desde 2017. E em 2019 ela foi até a Ilha da Trindade para fazer coleta de rochas quando se deparou com o material.
Após a análise, a geóloga identificou que o que estava atrelado as rochas era plástico, mais especificamente corda de pesca. O material é formado por pedaços jogado no mar, que são levados até a ilha pela ação das correntes marinhas.
Formação das rochas
A pesquisadora explicou então que, a partir disso, foi possível identificar que as rochas antes só compostas por substâncias naturais como mineiras, estavam sendo geradas pela poluição marinha, compostas principalmente por plástico.
De acordo com o resultado do estudo, o material de corda de pesca se formou na rocha e se fixou na superfície da praia.
O plástico se fixou onde havia rocha e areia e se incorporou na parte de cima da superfície. Com isso, conglomerados foram formados, ficando difícil, até quase impossível de tirar o plástico da rocha, o que mostra que são detritos plásticos com aparência de rocha.
Pesquisadora descobriu que rochas são compostas por nylon de rede de pesca. — Foto: Reprodução/ Fernanda Avelar Santos
A maioria do material coletado por Fernanda tem uma idade de poucos anos, com no máximo 1 ou 2 décadas.
O que também chamou a atenção da pesquisadora é que o processo da formação da rocha a partir da poluição marinha é rápido.
A geóloga explicou que a descoberta foi publicada em um artigo em uma das revistas internacionais mais importantes sobre poluição marinha no final do ano passado, a "Marine Pollution Bulletin".
Segundo Fernanda, a descoberta é considerada a primeira sobre o assunto no Brasil. A nível mundial, é a primeira descoberta de um afloramento que teve vários tipos de detrito no mesmo local.
A pesquisadora acredita que a descoberta serve de alerta para possíveis consequências graves para o meio ambiente, principalmente por causa da importância da ilha para o ecossistema, não só de tartaruga-verde, que é a única espécie que se reproduz nas ilhas oceânicas brasileiras, mas de diversas aves que se reproduzem no local.