A seleção argentina de futebol se envolveu em uma polêmica insólita às vésperas de estrear na Copa do Mundo do Catar: uma foto publicada pelo atacante Nicolás González em suas redes sociais durante o embarque dos jogadores para a competição mostra uma mala repleta de pacotes de erva-mate.
O "problema", para muitos argentinos, é que o produto não é nacional, e, sim, produzido no Brasil e de marca uruguaia. Produtores locais de erva-mate e até políticos reagiram nas redes sociais.
Na foto, é possível ver uma grande quantidade de erva-mate da marca uruguaia Canarias, produzida pela empresa Baldo, de Encantado, cidade de 23 mil habitantes localizada no Vale do Taquari, a 144 km de Porto Alegre.
De acordo com Larissa Bagatini, auxiliar de marketing da empresa, esta não foi a primeira vez que os jogadores argentinos tiveram contato com o produto brasileiro. Pelo contrário, a erva produzida em Encantado é presença constante entre os profissionais do futebol argentino. É o caso, inclusive, de Lionel Messi.
O jornalista Ariel Palacios, correspondente da GloboNews e do sportv em Buenos Aires, disse ao g1 que o craque argentino foi apresentado ao produto por outro ídolo do futebol mundial.
"Quem consumia essa marca era o Luis Suárez, estrela da seleção uruguaia. Ele e Messi jogavam juntos no Barcelona. Então, o Messi foi introduzido a essa marca por Suárez e levou para todos os colegas da seleção", diz.
Polêmica
Nas redes sociais, a polêmica da origem da erva repercutiu após a publicação do ex-deputado argentino Luis Mario Pastori, contrário à importação do mate. O político cita que o produto uruguaio é feito no Sul do Brasil.
"Insólito e inexplicável. Existem dezenas de marcas de erva-mate muito boas na Argentina, produzidas em Misiones e em Corrientes. Mas a Seleção leva ao Catar uma marca uruguaia. Há alguma explicação oficial? É quase uma provocação", protesta.
O assessor de comunicação da Associação de Futebol Argentino (AFA), Nicolas Novello, reagiu à polêmica publicando outra foto, com pacotes de erva-mate da marca Playadito, de origem argentina.
Segundo Ariel Palacios, o Instituto Nacional da Erva-Mate, entidade estatal que trata da produção da planta no país, também reclamou do fato, "dizendo que existem ervas nacionais" que poderiam ser levadas ao Catar.
Para o jornalista, "nessas épocas de Copa, as besteiradas nacionalistas sempre ficam mais exaltadas". Por outro lado, ele relata que muitas pessoas não se importaram com a polêmica.
Erva brasileira, padrão uruguaio
A erva-mate consumida pelos argentinos, na verdade, é colhida em cidades do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná e embalada em Encantado. A representante da empresa, Larissa Bagatini, explica que o produto é de "padrão uruguaio", o que significa que a erva é mais amarelada e com sabor mais intenso, diferente da erva "verdinha" que é vendida no Brasil.
O país, inclusive, é um dos principais compradores do mate brasileiro. "O Uruguai não produz erva-mate", explica Pedro Schwengber, diretor da Escola do Chimarrão, entidade criada no RS para divulgar o produto.
Plantação de erva-mate no RS — Foto: Reprodução/RBS TV