Os céus do Sul do país vêm atraindo os olhares de astrônomos e ufólogos desde o final de outubro, com a ocorrência de diversos fenômenos luminosos não identificados. Até o momento, foram ao menos oito dias de avistamentos, estranhos e muito brilhantes, relatados por pilotos de aviões.
Estas luzes misteriosas podem ser chamadas de óvnis (sigla para "objetos voadores não identificados"). Isso não significa necessariamente que sejam fenômenos de outro planeta. Eles são chamados assim simplesmente porque não há confirmação do que se tratam, segundo especialistas.
"Precisamos separar o que é de efeito natural para depois avançar nos que forem realmente óvnis. E, se for óvni, não necessariamente estamos falando de uma nave de extraterrestres, pode ser algum equipamento de tecnologia militar em teste de algum país ou até mesmo nosso", afirma Daniel Christian de Souza, ufólogo e fundador do Centro de Estudos Ufológicos (CEU) do Litoral Norte, de Cidreira (RS).
Luzes que acendem e apagam
O primeiro registro ocorreu em 22 de outubro e, o mais recente, na última terça-feira (15). A maior parte dos avistamentos aconteceu entre os dias 4 e 9 de novembro, em dias consecutivos. Muitos foram relatados por pilotos próximos a aeroportos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e amplamente divulgados nas redes sociais.
Os mais intrigantes envolvem luzes de cor azul, que se acendiam e apagavam, e também giravam em uma altura de 38 mil pés. Algumas seguiam ao lado da aeronave por grandes distâncias até se afastarem.
Ao que se sabe até agora, os eventos foram apenas luminosos: os pilotos não informaram nenhuma situação que afetasse o voo ou pouso dos aviões.
O que podem ser as luzes?
Para Roberto Dias da Costa, professor do departamento de astronomia da USP (Universidade de São Paulo), as características das luzes avistadas demonstram que elas são resultados da movimentação dos satélites Starlink — estruturas lançadas pela empresa SpaceX que podem refletir mais a luz solar. A passagem deles, inclusive, pôde ser vista sobre o Rio Grande do Sul no final do mês passado.
"Os satélites são lançados em grupo e quando se soltam ficam enfileirados até que cada um siga para a sua posição de destino. Nas imagens divulgadas sobre essas luzes que apareceram na região sul, isso pode ser visto com clareza. Uma fileira de luzes brilhantes, exatamente como são os satélites", explica.
Ainda segundo o professor, o satélite lançado recentemente pela SpaceX na Estação de Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos, é um modelo atual e mais brilhante, o que pode ter confundido os pilotos. No dia 24 de setembro a SpaceX soltou em órbita 51 satélites.
Luzes que se movimentam
O astrônomo Marcelo de Cicco, do Projeto Exoss, ligado ao Observatório Espacial Nacional, também acredita que parte das luzes relatadas pelos pilotos são reflexos da luz solar nos satélites Starlink, e justifica que os padrões de luz são repetitivos, além de ocorrerem em dias consecutivos. Ele descarta a possibilidade de serem meteoros, por exemplo.
Contudo, alguns relatos também falam sobre luzes que se movimentam e parecem seguir o avião. Para o astrônomo, essas não podem ser avaliadas como satélites. "Precisamos analisar os avistamentos por partes.
Algumas luzes que aparecem piscando na direção sul na linha do horizonte são do Starlink, mas há outras luzes", diz.
"O problema é que nos áudios os pilotos relatam que há pontos de luz andando mais embaixo, rodopiando, seguindo avião e o satélite é uma luz que pisca. Então não podemos colocar tudo na mesma caixa e dizer que é Starlink, porque há lacunas com a versão dos pilotos. Além disso, porque a torre pede para eles filmarem essas luzes, se fosse tudo satélite não teria porque disso", acrescenta De Cicco.
E os óvnis?
O ufólogo Souza é cauteloso ao falar sobre as luzes avistadas serem óvnis. Segundo ele, um estudo detalhado está sendo feito para explicar todas esses registros na região sul do Brasil e em países vizinhos, como Uruguai, Argentina e Chile, onde também há relatos de avistamentos.
"Estamos em contato com estudiosos desses países, fazendo uma cronologia dos avistamentos e estudando caso a caso. Acreditamos que pode ter situações em que pode ser o Sol refletiu satélites, mas há relatos de pilotos que levam muito a interpretação de óvni, porque são pilotos de carreira, com 36 anos de experiência, que sabem diferenciar um satélite de óvni", explica.
O ufólogo relata ainda que as rotas de satélites, meteoros e a movimentação de aviões das forças armadas estão sendo monitorados para não haver confusão nos avistamentos.