A popular marca de bebidas Velho Barreiro lançou um novo produto em maio deste ano que é praticamente impossível de passar batido. Estamos falando sobre a VB Platinum, a cachaça mais cara do mundo, disponível por valores a partir de US$ 180 mil — o que equivale a quase R$ 1 milhão.
A cachaça milionária é toda preparada de forma especial. Começa pelo líquido, que é produzido em alambique, de forma artesanal, até ser reduzido a um teor alcóolico entre 39% e 40% e depois vai para tonéis de uma madeira especial, a amburana, onde fica armazenado por cerca de quatro anos, envelhecendo para que o sabor seja mais adocicado e floral.
Mas, o que traz o preço que se sobressai aos olhos, na verdade, não é a bebida, e sim o que está por fora. A garrafa da cachaça, de 700 ml, é coberta por ouro rosé e centenas de pequenos diamantes. O presidente da empresa, Cesar Rosa, dispensa a modéstia: "uma verdadeira obra de arte".
Foi ele, aliás, quem desenhou o layout e mandou o projeto para um ourives de sua confiança, que fabricou a primeira unidade. Três meses depois do lançamento, essa ainda é a única garrafa produzida, já que nenhuma venda foi concretizada. O empresário diz que alguns clientes fiéis da marca estão com os cálculos na ponta do lápis para comprar o produto.
Rosa diz que esse processo de estudo da compra é natural. O alto valor não é corriqueiro, e, por isso, a Velho Barreiro só fabricará outra dessa garrafa da VB Platinum quando a compra da primeira for efetuada, com algum valor sinalizado.
As tratativas com o "cliente VIP", inclusive, são discutidas diretamente entre o presidente da empresa e o possível comprador.
Versão mais acessível
Mas, para quem não têm quase R$ 1 milhão disponível para a compra, ainda há outra possibilidade. A Velho Barreiro produziu, também, uma edição de varejo da VB Platinum, com uma garrafa sem todos os adornos e que pode ser comprada a partir de R$ 230.
De R$ 230 para quase R$ 1 milhão há uma enorme diferença. Mas a bebida produzida é a mesma tanto para a versão varejo, com as garrafas mais simples, quanto para a versão premium, com ouro e diamantes.
Essa diferença de preço, aliás, já foi muito comentada por especialistas e consumidores de cachaça e, para a companhia, está tudo bem. Afinal, a mídia espontânea gerada pela garrafa milionária atraiu até os olhos mais exigentes para a versão mais acessível.
Mauricio Maia, publicitário e especialista em cachaças, conta que buscou a bebida pela curiosidade em saber como seria esse produto, que visa posicionar a Velho Barreiro em um segmento premium.
O resultado, para Maia, é uma cachaça de alambique "boa e que obedece a todos os padrões de qualidade de uma bebida do tipo". Ele comenta que o produto não é inferior ou superior a outras cachaças do mesmo segmento e que o preço de R$ 230 é factível e está "dentro do que o mercado pratica".
Já o presidente da empresa diz encarar o lançamento de uma garrafa com ouros e diamantes como uma brincadeira que a companhia, pelo tamanho e tradicionalidade que tem no mercado, pode fazer para chamar a atenção do consumidor.
De qualquer forma, a VB Platinum está na prateleira de cachaças premium, com um processo de produção diferente das versões de entrada das cachaças no mercado.
As cachaças mais conhecidas — e mais baratas — são feitas em coluna, que é um modelo industrial de larga escala. Já a VB Platinum é parte de uma linha da Velho Barreira produzida em alambique, que é um recipiente próprio para a destilação e produção de uma bebida artesanal.
Depois de passar pelo processo conhecido como alambicagem, em que o álcool reduz até o teor desejado, a cachaça é armazenada em tonéis de amburana, uma madeira especial que traz as notas de sabor.
Da alambicagem ao armazenamento em amburana, a produção da VB Platinum dura cerca de quatro anos, enquanto as cachaças de coluna levam apenas algumas semanas.
Gerar valor para o setor de cachaça
Essa não é a primeira vez que a Velho Barreiro lança uma cachaça diferenciada. Antes da VB Platinum vieram outras, como a Diamond e uma edição especial numerada pelo bicentenário da Independência do Brasil, ambas de alambique e armazenadas em madeiras diferentes.
De acordo com o presidente da companhia, esses lançamentos refletem, na verdade, uma necessidade de todo o setor de cachaças: gerar valor com a bebida para além das classes sociais mais baixas, em que já está bastante inserida.
Rosa destaca que a Velho Barreiro já é uma marca consolidada entre as classes C, D e E e, com esses produtos mais requintados, está atingindo, também, as classes A e B, que são fãs mais fiéis de outros tipos de destilados, como rum, whisky e saquê, por exemplo.
Mauricio Maia destaca, no entanto, que a cadeia de geração de valor vai para muito além do preço e implica, sobretudo, em três pontos:
reconhecimento da qualidade do produto;
desejo de consumo;
fidelização do cliente para com a marca.
O especialista comenta que a Velho Barreiro já atingiu isso com o público C, D e E e considera que a estratégia de lançar a cachaça mais cara do mundo foi uma estratégia inteligente para dar um passo mais firme em direção às classes A e B.
Maia destaca que é como em um desfile de moda de marcas de luxo: os vestidos de alta moda e com valores exorbitantes normalmente são lançados em pouquíssimas peças e representam uma parte pequena do volume de vendas da marca. Mas, com todo mundo falando sobre aquilo, a marca vira desejo de consumo e vende centenas de outras peças.
Além de mirar as classes mais altas no Brasil, o executivo da Velho Barreiro também pontua que, já há algumas décadas, trabalha em parceria com o exterior para popularizar a cachaça como um produto de qualidade e tipicamente brasileiro, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa.
Ele explica que clientes de mercados internacionais são "um pouco mais exigentes em relação às bebidas e têm gostado mais dos produtos feitos artesanalmente", o que incentiva a empresa a continuar em sua empreitada com os produtos premium.