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Inflação pressiona Banco Central e Selic pode subir ainda mais

Copom deve aumentar taxa básica para 12,75% ao ano amanhã, mas, com a disparada dos índices de preços, analistas avaliam que ciclo de alta não vai parar por aí, o que terá efeito negativo no nível de atividade econômica

Publicada em 03/05/2022 às 09:49h

por Correio Braziliense


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 (Foto: REUTERS/AMANDA PEROBELLI)

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve anunciar, nesta quarta-feira (04), mais uma elevação na taxa básica de juros (Selic), após nove aumentos consecutivos. Conforme foi antecipado pelo Banco Central, o ajuste deve ser de um ponto percentual, levando a taxa dos atuais 11,75% para 12,75% ao ano. Até há pouco tempo, a expectativa era de que essa nova subida encerraria o ciclo de alta, iniciado em março do ano passado.

A persistência e a intensidade da inflação, contudo, podem levar o BC a continuar reforçando o aperto monetário, segundo analistas, o que teria impacto negativo no nível de atividade econômica, que já está baixo. Em abril, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15), considerado uma prévia da inflação oficial, subiu 1,73%, a maior variação para o mês em 27 anos. Em 12 meses, o indicador acumulou alta de 12,03%, mostrando que a carestia está longe do controle.

Relatório enviado a clientes ontem pelo banco Barclays reitera a expectativa de alta de um ponto percentual da Selic, e afirma que o Copom deve deixar a porta aberta para um novo ajuste em junho, "se necessário". A inflação pressionada e a piora das expectativas do mercado devem levar o BC a adotar uma comunicação mais aberta para o próximo encontro, na avaliação do economista para Brasil do banco, Roberto Secemski.

Roberto Luís Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e consultor da Troster Associados, observou que o ciclo recente de aperto monetário é o maior feito pelo BC desde que o regime de metas de inflação foi implantado, em 1999, mas afirma que ele pode não ser suficiente para colocar a inflação dentro da meta, que é de 3,25% para 2023, com teto de 4,75%. Isso porque os reajustes não têm efeito imediato e, segundo ele, o BC demorou a reagir à alta dos preços.

"Demorou para subir e tem um gradualismo ruim. Imagina que você está descendo uma avenida, uma descida forte, de bicicleta, e tem que frear. Se você freia devagarinho, você vai frear por mais tempo e vai esquentar mais os pneus", comparou.

A alta de juros é um remédio amargo, administrado às custas da qualidade de vida de parte da população no curto prazo. "É perverso. Você cresce menos, diminui a demanda. Para aliviar um pouco a pobreza, você tem auxílios, uma série de medidas de crédito. Então você vai ter o Banco Central pisando no freio e o Ministério da Economia, no acelerador", alertou Troster.

A estratégia de segurar a inflação via juros provoca controvérsias. O economista Felipe Queiroz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que, como os principais fatores de aumento dos preços vêm do lado da oferta, com a alta das commodities e de outras matérias primas, além da energia, o remédio dos juros seria ineficaz.

"Parte dos insumos industriais é importada e, com a taxa de câmbio no patamar em que está, aumenta o custo interno da produção. A oferta também diminuiu ou encareceu muito, como é o caso da energia", apontou Queiroz.

"Para o setor bancário e os rentistas, que vivem de taxa de juros, estamos atualmente num paraíso. Porém, para a economia real, é um completo desastre: taxa de desemprego elevada, renda das famílias caindo e o Brasil voltando ao mapa da fome. A tendência é de que o crescimento continue pífio, porque a política ortodoxa que está sendo adotada mina com qualquer possibilidade de crescimento sustentável da economia", avaliou.




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