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Perspectivas de exploração de petróleo no RS são renovadas

Publicada em 20/11/2023 às 08:32h

por Correio do Povo


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 (Foto: Arquivo / ANP / Divulgação / CP)

Com a descoberta de petróleo na Namíbia, a esperança de encontrar óleo na Bacia de Pelotas foi retomada. Isso porque as condições geológicas do Sul do continente africano são mais parecidas com a formação do Rio Grande do Sul do que as reservas em outras regiões do Brasil. Associado a isso, há cerca de um ano, empresas identificaram indícios de que possam existir reservatórios no Uruguai.

“No passado, o Brasil e a África estavam juntos. O oceano Atlântico surgiu a partir de um rasgo no meio. Nós temos uma conjunção, na época que o petróleo foi formado, de três bacias semelhantes. Na bacia da Namíbia, uma ‘irmã’ de Pelotas, apareceram (há cerca de dois anos) campos de petróleo muito bons e muito grandes. Em seguida, na bacia do Uruguai, começa a se encontrar prospectos importantes a serem testados na divisa com o Brasil e que são muito parecidos com a região da Namíbia, indicando bons resultados. Com isso, ressurge o interesse em Pelotas”, explica o geólogo, professor adjunto do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia do Instituto de Geociências da UFRGS Juliano Kuchle, que pesquisa desde 2007 a Bacia de Pelotas, que está localizada entre o Sul da ilha de Florianópolis até a divisa com o Uruguai.

Esta área consta no leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) do 4º Ciclo de Oferta Permanente de Concessão, a ser realizado no dia 13 de dezembro. Foram incluídos 12 setores na Bacia de Pelotas, após manifestação prévia de interesse do mercado pela região. Os 165 blocos ficam a uma distância que varia de 150 a 300 quilômetros da costa. 

“Nunca tiveram na bacia tantos blocos em oferta. A ANP recebeu pedido de empresas se mostrando interessadas. Por isso, esperamos que, ao menos, uma compre algo na região”, observa o professor. 

Os pesquisadores aguardam com otimismo que os estudos sejam ampliados. “Esperamos um maior investimento dos órgãos competentes na prospecção de óleo e gás na Bacia de Pelotas”, diz a professora do Núcleo de Oceanografia Geológica da Furg Paula Dentzien Dias, que pesquisa a área há 11 anos. 

Uma empresa de petróleo pode comprar e ganhar o direito de prospectar no bloco arrematado, mas isso não quer dizer que tenha petróleo. “Isso significa que tem o direito de fazer uma análise do subsolo oceânico e tem o direito de perfurar. Se achar óleo, o óleo é dela, mas a ANP não está dizendo que tem óleo ali. A empresa aceita o risco, comprando esse bloco. Se ela achar, esse lote vira um campo de petróleo. Se não achar, ela devolve. Tudo é uma questão de investimento, risco e óleo encontrado”, salienta Kuchle. 

O trabalho costuma ocorrer em três etapas. A primeira é a fase exploratória, que inclui uma espécie de radiografia do mar feita com um navio. Conforme as condições, são feitas perfurações e todo esse processo, que custa centenas de milhões de reais, pode levar entre quatro e oito anos. “No final da exploração, ou a empresa devolve por não valer a pena, ou ela acha óleo e, quando ela acha, vai para a fase de desenvolvimento em que precisa se calcular o volume da jazida, preparar a estrutura para o campo e instalar uma plataforma de prospecção, o que leva em torno de mais três anos”, informa o professor da Ufrgs.

A terceira fase é a de produção, que basicamente é o bombeamento do óleo e do gás. “É normal um campo de petróleo ter 30 poços produzindo, sendo que um deles foi o descobridor e os outros, no desenvolvimento e na produção, foram feitos para colocar o campo em produção.” Eles se esgotam dependendo do ritmo e do volume. “Existem poços que duraram 40 anos. Um campo de pré-sal, por exemplo, produz bem por cerca de dez anos, depois começa a declinar a produção dele”, esclarece Kuchle. 

Investimento de risco 

Apesar das expectativas, o investimento na Bacia de Pelotas é de risco, porque não há garantias de que haja petróleo no Rio Grande do Sul. Desde 1958, foram feitas 20 tentativas de perfuração e todos os poços estavam secos. Conforme o pesquisador Francismar Ferreira, do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), em 2001, quando ocorreu a última perfuração, os poços acabaram sendo abandonados permanentemente, já que não houve descoberta confirmada. 

“Desses 20, nove são em terra, o que hoje sabemos que não tem atrativo nenhum, porque a zona é tão rasa que não teria temperatura e pressão suficientes para produzir petróleo”, explica o professor da Ufrgs Juliano Kuchle. Considerando somente a zona marítima do RS, foram feitos 11 poços, o que significa, para o Kuchle, que a Bacia de Pelotas recebeu muito pouca atenção até agora, pois o foco foi voltado para outras regiões do país.

“As bacias de Santos e Campos são as mais ricas do Brasil. Pelotas tem uma configuração totalmente diferente, não tem pré-sal. Então, sempre ficou à margem do interesse”, define Kuchle. Contudo, na avaliação dele, a localização de petróleo depende de insistência. “Em Campos, começaram a perfurar em 1973 e precisou ter 16 poços secos para, no 17º, encontrar óleo. Às vezes, em uma bacia sedimentar que não se conhece, é muito mais questão de insistência do que de sorte. Aqui em Pelotas, paramos na 11ª. Poderíamos ter uma Bacia de Campos escondida.”

Francismar Ferreira entende que este momento pode contribuir para a retomada das atividades na bacia localizada no RS, mas pondera: “De todo modo, as atividades na região dependerão das estratégias e prioridades das petroleiras que participarão do leilão, que podem optar por investimentos em novas áreas exploratórias, como a bacia de Pelotas, ou não. Afinal, trata-se de uma bacia que ainda apresenta elevado risco exploratório, o que suscita incertezas.” Na opinião dele, é importante o avanço para novas áreas. “O próprio presidente da Petrobras (Jean Paul Prates) já sinalizou a possibilidade desse movimento. Embora não haja garantia de sucesso, as descobertas da Namíbia e do Uruguai acabam motivando o interesse pelo desenvolvimento de atividades na bacia.”  

Segundo o pesquisador do Ineep, no caso da Namíbia, existem indicações de que as reservas descobertas são de óleo leve. “De todo modo, ainda é cedo para estimar características do petróleo para a Bacia de Pelotas. A retomada das atividades exploratórias na região é que poderá indicar melhor o potencial petrolífero da bacia, bem como as possíveis características do óleo. Do mesmo modo, ainda é cedo para fazer comparações com o volume das reservas do pré-sal ou com outra bacia brasileira devido ao trabalho exploratório incipiente realizado até o momento na Bacia de Pelotas”, diz. 

A professora da Furg Paula Dentzien Dias projeta que é possível que depósitos contendo óleo e gás sejam semelhantes às bacias da Namíbia e do Uruguai. “Entretanto, muita pesquisa precisa ocorrer para afirmarmos em quais depósitos se encontram”, observa. 

Compartilhamento do espaço com parques eólicos

Se a exploração de óleo e gás na Bacia de Pelotas ainda é incerta, os parques eólicos offshore devem começar a ocupar espaço na área, principalmente entre a latitude de Porto Alegre até o Sul do Estado. “As eólicas estão entrando com tudo na Bacia de Pelotas, diferente do petróleo que tem um ritmo mais lento. Já há processo de licenciamento de mais de 60 pedidos para parques offshore”, informa o professor João Luiz Nicolodi do Núcleo de Oceanografia Geológica da Furg. Segundo ele, o Brasil está iniciando o Planejamento Espacial Marinho (PEM), que deve ser conduzido por um grupo formado por empresas e universidades gaúchas, além da UFSC e financiado pelo BNDES. Os estudos vão começar pela região Sul.




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